CRÔNICA DE VIAGEM #05
Errando e amadurecendo em viagens
|
Por ESTELA T em 07/Novembro/2016
|
Para 2013 eu havia elaborado um roteiro que passava pelo sul da Espanha, o sul da França e o norte da Itália. Mas ainda não estava certa se era o momento ideal para esta viagem. Eu já tinha planejado viajar naquele ano novamente com a minha amiga com quem viajei em 2012 (na grande viagem) e foi ela quem sugeriu: Que tal Alemanha, Áustria, Hungria, República Tcheca, Romênia, Bulgária e voltar a Istambul?
Hum..... ótima idéia! Na dúvida, pergunte a opinião de um(a) amigo(a) que tem um perfil parecido com o seu mas nunca o(a) responsabilize com o que vir depois!
Olhando no mapa da Europa, quem não fica tentado em fazer uma viagem que abranja uma grande quantidade de países e cidades? É tudo tão pertinho.....
E lá vamos nós calcular a logística disso tudo. Coloquei todas as minhas habilidades que minha profissão da época me proporcionou: a lógica da logística = impossível, caro e penoso. Como não queríamos tirar Istambul da rota, tive que tirar locais da Bulgária e Romênia da lista. As passagens aéreas ficariam muito caras e perderíamos muito tempo dos 20 dias que tínhamos. Descartei o aluguel do carro porque ficaria muito caro devolvê-lo em um país diferente. Mas em compensação, usaríamos os trens europeus que, até então, eram uma curiosidade enorme para mim!
Na época, eu trabalhava o dia inteiro e quando voltava pra casa eu me enfiava no meu quarto, ligava o laptop e ficava horas pesquisando o que poderíamos fazer, quais cidades ir, quais trens pegar, etc, etc, etc. Mandava quilômetros de emails para minha amiga e resolvi convidar mais uma amiga para a empreitada.
Foram muitos emails, muitos. No conteúdo da grande maioria dos emails foi eu quem decidiu tudo: quantos dias ficar em cada cidade, hotéis, locais, atrações, até o ballet em Praga. Tudo. Acabou sendo assustador ninguém se manifestar dizendo que queria tal coisa e que não queria outra coisa da minha listinha.
Fui comprando e reservando tudo em conjunto e depois era só esperar mais 3 meses para viajar! O itinerário foi: Berlim, Istambul, Viena, Bratislava, Budapeste, Salzburg, Munique, Fussen, Rothenburg Ob der Tauber, Praga, Dresden e Berlim.
No dia de voar para a Europa, estava mais tranquila em relação ao avião. Minhas pernas nem incharam, estava mais acostumada com tudo, apesar do bebê de Rosemary perto de nós não parar de chorar. Da mesma forma que da primeira vez, o avião fez escala em Paris e seguiu para Berlim.
Era Setembro e o começo do Outono Europeu estava deliciosamente fresco! O céu com uma cor profunda! Eu nem precisei usar blusas e ficava pensando: 'ah... que bom que a maioria dos blogs de viagem recomendam Setembro para visitar a Europa Central... porque não é nem frio e nem calor.... ah..... que sorte!'. Pois é..... só que no meio da viagem não foi isso o que aconteceu!
Começo da viagem, conhecemos Berlim e voamos a Istambul e, diferente de Berlim, estava ainda mais quente. Uma coisa boa de voltar a um local que você viajou num passado não muito distante (neste caso, um pouco mais de um ano) é que você está bem habituada ao ritmo e ordem das coisas. Voltar a Istambul foi uma experiência bem gostosa e curti a cidade de forma mais plena. Conseguimos visitar alguns locais que deixamos como pendência da primeira vez que visitamos a cidade e conseguimos apreciar coisas que já conhecíamos com mais calma. Estava tão tranquila e desencanada de tudo naquela cidade que teve um dia que eu até esqueci meu cartão de débito no caixa eletrônico de rua e só percebi no dia seguinte... e pasmem.... ao conversar com o pessoal do banco, o cartão estava lá!
Estar de volta e mais à vontade em uma cidade fez com que acabássemos desligando o 'radar do perigo'... Acabamos nos arriscando um pouco mais e andando em locais obscuros de Istambul... quando me dei conta, deu um medinho, mas nada que me fizesse dar meia volta. Acho que o meu medinho foi mais pela responsabilidade de estar levando amigas a lugares obscuros, porque eu me sentia responsável por elas. Passamos até em uma rua bem barra pesada, com vários drogados e prostitutas. Fiquei assustada! Nada de mal nos aconteceu, mas não recomendo ninguém a sair (sozinho) da rota turística, mesmo se tiver um anjo da guarda porreta.
Outra coisa que aconteceu foi que brigamos dentro do Grand Bazaar depois de recebermos o velho golpe do 'senha inválida' ao efetuarmos uma compra com cartão de débito. Brigamos, xingamos, apontamos o dedo, encaramos, peitamos... só faltou dar um cuspe na cara do malandro, mas aí já era demais (eu sou uma lady)! Mesmo com algum 'respaldo' de um segurança do Grand Bazaar não deu em nada. O malandro se deu bem... Fiquei muito nervosa e decepcionada... Lógico que eu não me orgulho deste episódio, mas acabei aprendendo a ficar sempre esperta e não baixar a guarda em momento algum!
De toda forma, deu pra aproveitar muito a cidade e querendo ou não, aproveitamos até os perrengues. Mas como tudo acabou bem, fomos para Viena felizes da vida.
Viena é totalmente o oposto do caos de Istambul. É tudo linear, limpo, amplo e clean. É tudo tão certinho que até entedia um pouco. A viagem por países, digamos assim, germânicos, foi algo totalmente diferente que eu fiz. Não tem aquele aconchego e calor humano do "tipo latino" e que eu senti muita falta. Nestes países você passa pelas pessoas meio que despercebida. As pessoas simplesmente não notam muito que você está lá, e eu não estou falando que elas te ignoram, simplesmente elas ficam muito, mas muito na delas. Notei que as mulheres destes países são muito simpáticas e houve momentos de muita cordialidade fora do centro histórico e muita falta de paciência em alguns lugares.
Chegando em Viena também iniciou-se a jornada e aquisição de conhecimento sobre a malha ferroviária da Europa Central. Até o segundo trem, eu simplesmente não havia captado e muito menos aprendido a lição em relação a quantidade de roupas para levar em uma viagem e muito menos em relação ao tamanho de uma mala quando há trens e baldeações no itinerário. Só depois da viagem é que aprendi até porque eu sofri, e muito. OK... Nem tudo é drama... admito que eu sabia que seria uma viagem pesada e, devido a isso, quase não comprei nada durante a viagem. Então parentes e amigos acabaram não ganhando tantos souvernirs de mim.
Subimos e descemos de uns 10 trens no total dos 20 dias de viagem, sem contar as baldeações e trocas de trens. Além da mala, ainda tinha a minha bolsa pesada. Carregar, empurrar, subir e descer escadas com malas médias e um volume de quase 20 quilos não foi fácil. Em uma das estações, havia uma esteira rolante para ajudar a pessoa, em casos como o meu, levar a mala para cima ou para baixo nas escadas. Não sei como, mas a minha mala acabou saindo da esteira e foi quicando escada abaixo em câmera lenta. Fiquei pasma, preocupada se, ao chegar no chão, lá embaixo, a mala pesada iria pegar a perna de alguma pessoa. Felizmente nada aconteceu nem a ninguém e nem à mala. Foi uma cena horrível, mas como acabou tudo bem, rendeu boas risadas.
Peguei trens que, classifico na sua maioria, categoria mediana. Alguns eram horripilantes, dignos de filme de terror, sujos, mal cuidados. Uns 2 trens eram ótimos. Boa parte deles passava um carrinho de snacks e bebidas para comprar. A paisagem por onde os trens passavam não era lá grande coisa, então o melhor a fazer lá dentro era dormir. Não me arrependo tanto por ter optado pelo trem como meio de locomoção, até porque eu precisava desta experiência, mas acho que se tivesse optado por um carro, teria uma percepção mais ampla do que é a Europa Central. Acabamos nos limitando às cidades mais conhecidas e o que eu mais gosto é de viajar para locais não muito explorados.
Fiquei assustada com cidades como Munique, que se apresentou cheia de bêbados fazendo um esquenta para a Oktoberfest e também eu quase me arrependi por ter ido ao campo de concentração 'modelo' de Dachau. Lógico que acabei aprendendo sobre fatos e vivenciei momentos que até então eram muito distantes de mim, tudo é acrescentado em nossas vidas, mas acho que eu preferiria ter ido a outro lugar... Mas as meninas queriam ir, então ok. Não me senti exatamente mal, mas o silêncio do grupo foi arrebatador. Por falar neste assunto, foi quase impossível não estar envolvida sobre estas marcas do passado por todas as cidades que fomos na Europa Central. Não só pelo holocausto, mas também pelas marcas da Segunda Guerra Mundial. Eu sou ávida leitora e pesquisadora sobre esta guerra. Não sou expert, mas leio e assisto muita coisa sobre o assunto. Estar naquelas ruas me deu uma dimensão bem diferente daquilo que eu havia aprendido até então.
Foi em Budapeste que entrei na primeira sinagoga em minha vida. Achei linda! Há um pequeno memorial onde um jovem senhor, com um inglês impecável, nos contou sobre muitas coisas que aconteceram naquele passado negro. É muito triste imaginar como as pessoas usam a maldade para fins tão torpes. Também foi em Budapeste que eu comecei a ficar mais feliz com a comida. A comida é muito parecida nas cidades dos países que fomos. Porém, as opções em Viena, Salzburg, Dresden e Berlim foram experiências que considero muito sem graça. Não sei se foi devido a escolhas errôneas que eu fazia, mas detestei a comida destes lugares, felizmente Budapeste me alimentou com basicamente a mesma comida mas com tempero marcante e vida nos pratos. Adorei! Até comi um goulash, porém deixei as carnes de lado (eu não como carne bovina). Em Praga também enchi a pança porque a comida também é muito boa!
No meio da viagem já estava muito frio e tive que comprar uma blusa. Até que chegamos em Praga e o frio estava ainda mais intenso. Teve um momento em que eu estava com luvas de couro, tirando fotos sobre a ponte Carlos e a hipotermia estava quase me matando. Eu chegava até a bater os dentes! E não teve jeito.... tive que parar em uma loja e comprar uma blusa pro frio europeu. Nossa.... como foi difícil.... sério.... Pensei: 'se eu tiver que comprar uma blusa (que era o que menos queria) que seja no mínimo a minha cara'. Por incrível que pareça, só encontramos lojas jovens, jovens até demais. Comprar algo com um mínimo de elegância é muito difícil em lojas de moda jovem. Mas vasculhando mais um pouco, acabei encontrando uma blusa super parceira para todas as minhas viagens que fiz até hoje! Uma blusa maravilhosa que me protege até da chuva! Tudo isso eu consegui resolver em 30 minutos. Não gosto de 'perder' tempo com compras, acho penoso. Se algo legal estiver no meu caminho e que eu ache que é a cara de alguém que vou 'mimar' (no bom sentido), sorte da pessoa, senão, sorry....
De todas as cidades, eu amei conhecer Praga. Ô cidade cheia de pessoas bonitas! E a comida? Saborosa! A arquitetura medieval dela encanta! É blues na rua, mágica para crianças, músicos 'celtas', enfim... Viva e lindíssima! Mas tem que ficar de olho em tudo porque vi muita droga rolando nas ruas, à noite. Minhas amigas não percebiam e eu ficava tipo general, falando: 'Vamos logo, aperta o passo, aqui está perigoso' rsrsrsrs. Hoje penso que cometi um grande erro por ter reservado apenas 3 dias nesta cidade. Ela precisa ser digerida lentamente. Teria ficado 5 dias. Em Praga também foi difícil pegarmos um taxista honesto. Quando conseguimos um (ok.... no total só pegamos 4) ficamos tão felizes e agradecidas que eu até lembro do nome e do rosto do taxista: Milda. Um senhor tão ser humano digno...
Uma coisa curiosa aconteceu comigo. Passamos por muitas cidades lindas e medievais como Rothenburg, mas acho que chegou um momento que me empapuçou tanta arquitetura igual. Engraçado não é mesmo? Eu amo este estilo, mas eu acho que eu estava com saudades do caos. Tive momentos muito introspectivos nesta viagem. Não sei exatamente o que passou, mas senti até muita tristeza em alguns lugares. Cheguei a ficar estressada com minhas amigas que não aguentavam mais entrar e sair dos trens, o que me obrigou a tirar do roteiro a passagem pela cidade tcheca Karlov Vary. Além disso, fiquei muito cansada em ter que decidir o que fazer sempre quando surgia um tempo ocioso. Gosto de usufruir ao máximo o tempo que tenho em viagens, porém, também não sou daquelas de conhecer um lugar e já partir freneticamente a outro para computar 'check ins'. Gosto de parar um pouco, tomar um café, ver como as pessoas interagem com o ambiente e gosto de ouvir os sons e sentir os cheiros. Mas tudo passou. Além do mais, são amigas mais do que especiais pra mim.
Para quem estava cansada em arrastar malas pesadas, a situação ficou ainda pior quando descemos em Dresden. Quando você está no começo da viagem, o que vou contar não é nada. Mas quando você está quase no fim da jornada, é quase um sacrifício. Eu não sei o que houve, mas quando tentei reservar hotel nesta cidade, não encontrei nenhum disponível e em conta no centro histórico. Então escolhi um mais afastado, porém aparentemente próximo a uma grande estação de trem e que com certeza teria um ponto de taxi na sua porta. Olhando no mapa, a estação parecia ser grande porque por ela passavam várias e várias linhas de trem. Pensei que seria uma ótima opção e que de lá pegaríamos um taxi e chegaríamos no hotel mega confortáveis.
Na vida real foi assim: Descemos na estação e parecia que havíamos atravessado um portal mágico que nos transportou direto à Alemanha Oriental do pós guerra. Éramos somente nós na pequenina plataforma da 'estação'. Não havia nem guichê. Não havia ninguém, não havia nem pássaros sobrevoando o lugar. Só nós e as linhas dos trens, nem uma cadeira pra sentar e chorar. Fiquei desconcertada e a única coisa que tinha, além dos trilhos e a plataforma, era um elevador que nos levava ao viaduto que passava por cima. Ao subir, não havia nada além do viaduto e carros passando. O negócio era seguir por 2,6km a pé até, quem sabe, ter sorte e avistar um taxi. E os 2 que passaram estavam ocupados. Não tinha solução. Tínhamos que seguir a pé, arrastando as malas, nos desviando da ciclofaixa. Parecia que estávamos pagando promessa. Só sei que no final de tudo isso perdi 2 quilos e minhas pernas não pareciam mais as minhas pernas, de tão finas que ficaram. E o pior de tudo é que eu nem lá gostei de Dresden. Cidade esquisita demais!
No fim, Berlim fechou a viagem com chave de ouro. Gostei muito da cidade e da atmosfera que tem. Até teve um cara que trabalhava em um museu que me xavecou descaradamente em português, convidando para sair à noite para uma balada. Deu até vontade, não por ele, mas no fim estava mais focada em turismo cultural do que jovial. Mas de toda forma, fiquei empolgada pelo xaveco. Que mulher não gosta de ser cortejada delicadamente por um rapaz bonito? Ah duvido!
Voltando para São Paulo, minha amiga e eu já tínhamos combinado de viajarmos juntas até 2020. Mas a vida acaba fazendo com que você mude um poucos os planos. Não só por conta de mudanças profissionais, mas também rolou mudanças de prioridades que nos fez realizarmos viagens "solos" e com os respectivos namoridos. Naquele contexto de 2012 e 2013 estávamos na mesma sintonia, no mesmo ritmo de vida e que simplesmente achamos que sempre seria daquele jeito. Mas como é maravilhoso viver, tudo muda. Mas ainda continuamos com uma vontade extrema de viajarmos novamente juntas. Pelo menos é o que sinto!
Hum..... ótima idéia! Na dúvida, pergunte a opinião de um(a) amigo(a) que tem um perfil parecido com o seu mas nunca o(a) responsabilize com o que vir depois!
Olhando no mapa da Europa, quem não fica tentado em fazer uma viagem que abranja uma grande quantidade de países e cidades? É tudo tão pertinho.....
E lá vamos nós calcular a logística disso tudo. Coloquei todas as minhas habilidades que minha profissão da época me proporcionou: a lógica da logística = impossível, caro e penoso. Como não queríamos tirar Istambul da rota, tive que tirar locais da Bulgária e Romênia da lista. As passagens aéreas ficariam muito caras e perderíamos muito tempo dos 20 dias que tínhamos. Descartei o aluguel do carro porque ficaria muito caro devolvê-lo em um país diferente. Mas em compensação, usaríamos os trens europeus que, até então, eram uma curiosidade enorme para mim!
Na época, eu trabalhava o dia inteiro e quando voltava pra casa eu me enfiava no meu quarto, ligava o laptop e ficava horas pesquisando o que poderíamos fazer, quais cidades ir, quais trens pegar, etc, etc, etc. Mandava quilômetros de emails para minha amiga e resolvi convidar mais uma amiga para a empreitada.
Foram muitos emails, muitos. No conteúdo da grande maioria dos emails foi eu quem decidiu tudo: quantos dias ficar em cada cidade, hotéis, locais, atrações, até o ballet em Praga. Tudo. Acabou sendo assustador ninguém se manifestar dizendo que queria tal coisa e que não queria outra coisa da minha listinha.
Fui comprando e reservando tudo em conjunto e depois era só esperar mais 3 meses para viajar! O itinerário foi: Berlim, Istambul, Viena, Bratislava, Budapeste, Salzburg, Munique, Fussen, Rothenburg Ob der Tauber, Praga, Dresden e Berlim.
No dia de voar para a Europa, estava mais tranquila em relação ao avião. Minhas pernas nem incharam, estava mais acostumada com tudo, apesar do bebê de Rosemary perto de nós não parar de chorar. Da mesma forma que da primeira vez, o avião fez escala em Paris e seguiu para Berlim.
Era Setembro e o começo do Outono Europeu estava deliciosamente fresco! O céu com uma cor profunda! Eu nem precisei usar blusas e ficava pensando: 'ah... que bom que a maioria dos blogs de viagem recomendam Setembro para visitar a Europa Central... porque não é nem frio e nem calor.... ah..... que sorte!'. Pois é..... só que no meio da viagem não foi isso o que aconteceu!
Começo da viagem, conhecemos Berlim e voamos a Istambul e, diferente de Berlim, estava ainda mais quente. Uma coisa boa de voltar a um local que você viajou num passado não muito distante (neste caso, um pouco mais de um ano) é que você está bem habituada ao ritmo e ordem das coisas. Voltar a Istambul foi uma experiência bem gostosa e curti a cidade de forma mais plena. Conseguimos visitar alguns locais que deixamos como pendência da primeira vez que visitamos a cidade e conseguimos apreciar coisas que já conhecíamos com mais calma. Estava tão tranquila e desencanada de tudo naquela cidade que teve um dia que eu até esqueci meu cartão de débito no caixa eletrônico de rua e só percebi no dia seguinte... e pasmem.... ao conversar com o pessoal do banco, o cartão estava lá!
Estar de volta e mais à vontade em uma cidade fez com que acabássemos desligando o 'radar do perigo'... Acabamos nos arriscando um pouco mais e andando em locais obscuros de Istambul... quando me dei conta, deu um medinho, mas nada que me fizesse dar meia volta. Acho que o meu medinho foi mais pela responsabilidade de estar levando amigas a lugares obscuros, porque eu me sentia responsável por elas. Passamos até em uma rua bem barra pesada, com vários drogados e prostitutas. Fiquei assustada! Nada de mal nos aconteceu, mas não recomendo ninguém a sair (sozinho) da rota turística, mesmo se tiver um anjo da guarda porreta.
Outra coisa que aconteceu foi que brigamos dentro do Grand Bazaar depois de recebermos o velho golpe do 'senha inválida' ao efetuarmos uma compra com cartão de débito. Brigamos, xingamos, apontamos o dedo, encaramos, peitamos... só faltou dar um cuspe na cara do malandro, mas aí já era demais (eu sou uma lady)! Mesmo com algum 'respaldo' de um segurança do Grand Bazaar não deu em nada. O malandro se deu bem... Fiquei muito nervosa e decepcionada... Lógico que eu não me orgulho deste episódio, mas acabei aprendendo a ficar sempre esperta e não baixar a guarda em momento algum!
De toda forma, deu pra aproveitar muito a cidade e querendo ou não, aproveitamos até os perrengues. Mas como tudo acabou bem, fomos para Viena felizes da vida.
Viena é totalmente o oposto do caos de Istambul. É tudo linear, limpo, amplo e clean. É tudo tão certinho que até entedia um pouco. A viagem por países, digamos assim, germânicos, foi algo totalmente diferente que eu fiz. Não tem aquele aconchego e calor humano do "tipo latino" e que eu senti muita falta. Nestes países você passa pelas pessoas meio que despercebida. As pessoas simplesmente não notam muito que você está lá, e eu não estou falando que elas te ignoram, simplesmente elas ficam muito, mas muito na delas. Notei que as mulheres destes países são muito simpáticas e houve momentos de muita cordialidade fora do centro histórico e muita falta de paciência em alguns lugares.
Chegando em Viena também iniciou-se a jornada e aquisição de conhecimento sobre a malha ferroviária da Europa Central. Até o segundo trem, eu simplesmente não havia captado e muito menos aprendido a lição em relação a quantidade de roupas para levar em uma viagem e muito menos em relação ao tamanho de uma mala quando há trens e baldeações no itinerário. Só depois da viagem é que aprendi até porque eu sofri, e muito. OK... Nem tudo é drama... admito que eu sabia que seria uma viagem pesada e, devido a isso, quase não comprei nada durante a viagem. Então parentes e amigos acabaram não ganhando tantos souvernirs de mim.
Subimos e descemos de uns 10 trens no total dos 20 dias de viagem, sem contar as baldeações e trocas de trens. Além da mala, ainda tinha a minha bolsa pesada. Carregar, empurrar, subir e descer escadas com malas médias e um volume de quase 20 quilos não foi fácil. Em uma das estações, havia uma esteira rolante para ajudar a pessoa, em casos como o meu, levar a mala para cima ou para baixo nas escadas. Não sei como, mas a minha mala acabou saindo da esteira e foi quicando escada abaixo em câmera lenta. Fiquei pasma, preocupada se, ao chegar no chão, lá embaixo, a mala pesada iria pegar a perna de alguma pessoa. Felizmente nada aconteceu nem a ninguém e nem à mala. Foi uma cena horrível, mas como acabou tudo bem, rendeu boas risadas.
Peguei trens que, classifico na sua maioria, categoria mediana. Alguns eram horripilantes, dignos de filme de terror, sujos, mal cuidados. Uns 2 trens eram ótimos. Boa parte deles passava um carrinho de snacks e bebidas para comprar. A paisagem por onde os trens passavam não era lá grande coisa, então o melhor a fazer lá dentro era dormir. Não me arrependo tanto por ter optado pelo trem como meio de locomoção, até porque eu precisava desta experiência, mas acho que se tivesse optado por um carro, teria uma percepção mais ampla do que é a Europa Central. Acabamos nos limitando às cidades mais conhecidas e o que eu mais gosto é de viajar para locais não muito explorados.
Fiquei assustada com cidades como Munique, que se apresentou cheia de bêbados fazendo um esquenta para a Oktoberfest e também eu quase me arrependi por ter ido ao campo de concentração 'modelo' de Dachau. Lógico que acabei aprendendo sobre fatos e vivenciei momentos que até então eram muito distantes de mim, tudo é acrescentado em nossas vidas, mas acho que eu preferiria ter ido a outro lugar... Mas as meninas queriam ir, então ok. Não me senti exatamente mal, mas o silêncio do grupo foi arrebatador. Por falar neste assunto, foi quase impossível não estar envolvida sobre estas marcas do passado por todas as cidades que fomos na Europa Central. Não só pelo holocausto, mas também pelas marcas da Segunda Guerra Mundial. Eu sou ávida leitora e pesquisadora sobre esta guerra. Não sou expert, mas leio e assisto muita coisa sobre o assunto. Estar naquelas ruas me deu uma dimensão bem diferente daquilo que eu havia aprendido até então.
Foi em Budapeste que entrei na primeira sinagoga em minha vida. Achei linda! Há um pequeno memorial onde um jovem senhor, com um inglês impecável, nos contou sobre muitas coisas que aconteceram naquele passado negro. É muito triste imaginar como as pessoas usam a maldade para fins tão torpes. Também foi em Budapeste que eu comecei a ficar mais feliz com a comida. A comida é muito parecida nas cidades dos países que fomos. Porém, as opções em Viena, Salzburg, Dresden e Berlim foram experiências que considero muito sem graça. Não sei se foi devido a escolhas errôneas que eu fazia, mas detestei a comida destes lugares, felizmente Budapeste me alimentou com basicamente a mesma comida mas com tempero marcante e vida nos pratos. Adorei! Até comi um goulash, porém deixei as carnes de lado (eu não como carne bovina). Em Praga também enchi a pança porque a comida também é muito boa!
No meio da viagem já estava muito frio e tive que comprar uma blusa. Até que chegamos em Praga e o frio estava ainda mais intenso. Teve um momento em que eu estava com luvas de couro, tirando fotos sobre a ponte Carlos e a hipotermia estava quase me matando. Eu chegava até a bater os dentes! E não teve jeito.... tive que parar em uma loja e comprar uma blusa pro frio europeu. Nossa.... como foi difícil.... sério.... Pensei: 'se eu tiver que comprar uma blusa (que era o que menos queria) que seja no mínimo a minha cara'. Por incrível que pareça, só encontramos lojas jovens, jovens até demais. Comprar algo com um mínimo de elegância é muito difícil em lojas de moda jovem. Mas vasculhando mais um pouco, acabei encontrando uma blusa super parceira para todas as minhas viagens que fiz até hoje! Uma blusa maravilhosa que me protege até da chuva! Tudo isso eu consegui resolver em 30 minutos. Não gosto de 'perder' tempo com compras, acho penoso. Se algo legal estiver no meu caminho e que eu ache que é a cara de alguém que vou 'mimar' (no bom sentido), sorte da pessoa, senão, sorry....
De todas as cidades, eu amei conhecer Praga. Ô cidade cheia de pessoas bonitas! E a comida? Saborosa! A arquitetura medieval dela encanta! É blues na rua, mágica para crianças, músicos 'celtas', enfim... Viva e lindíssima! Mas tem que ficar de olho em tudo porque vi muita droga rolando nas ruas, à noite. Minhas amigas não percebiam e eu ficava tipo general, falando: 'Vamos logo, aperta o passo, aqui está perigoso' rsrsrsrs. Hoje penso que cometi um grande erro por ter reservado apenas 3 dias nesta cidade. Ela precisa ser digerida lentamente. Teria ficado 5 dias. Em Praga também foi difícil pegarmos um taxista honesto. Quando conseguimos um (ok.... no total só pegamos 4) ficamos tão felizes e agradecidas que eu até lembro do nome e do rosto do taxista: Milda. Um senhor tão ser humano digno...
Uma coisa curiosa aconteceu comigo. Passamos por muitas cidades lindas e medievais como Rothenburg, mas acho que chegou um momento que me empapuçou tanta arquitetura igual. Engraçado não é mesmo? Eu amo este estilo, mas eu acho que eu estava com saudades do caos. Tive momentos muito introspectivos nesta viagem. Não sei exatamente o que passou, mas senti até muita tristeza em alguns lugares. Cheguei a ficar estressada com minhas amigas que não aguentavam mais entrar e sair dos trens, o que me obrigou a tirar do roteiro a passagem pela cidade tcheca Karlov Vary. Além disso, fiquei muito cansada em ter que decidir o que fazer sempre quando surgia um tempo ocioso. Gosto de usufruir ao máximo o tempo que tenho em viagens, porém, também não sou daquelas de conhecer um lugar e já partir freneticamente a outro para computar 'check ins'. Gosto de parar um pouco, tomar um café, ver como as pessoas interagem com o ambiente e gosto de ouvir os sons e sentir os cheiros. Mas tudo passou. Além do mais, são amigas mais do que especiais pra mim.
Para quem estava cansada em arrastar malas pesadas, a situação ficou ainda pior quando descemos em Dresden. Quando você está no começo da viagem, o que vou contar não é nada. Mas quando você está quase no fim da jornada, é quase um sacrifício. Eu não sei o que houve, mas quando tentei reservar hotel nesta cidade, não encontrei nenhum disponível e em conta no centro histórico. Então escolhi um mais afastado, porém aparentemente próximo a uma grande estação de trem e que com certeza teria um ponto de taxi na sua porta. Olhando no mapa, a estação parecia ser grande porque por ela passavam várias e várias linhas de trem. Pensei que seria uma ótima opção e que de lá pegaríamos um taxi e chegaríamos no hotel mega confortáveis.
Na vida real foi assim: Descemos na estação e parecia que havíamos atravessado um portal mágico que nos transportou direto à Alemanha Oriental do pós guerra. Éramos somente nós na pequenina plataforma da 'estação'. Não havia nem guichê. Não havia ninguém, não havia nem pássaros sobrevoando o lugar. Só nós e as linhas dos trens, nem uma cadeira pra sentar e chorar. Fiquei desconcertada e a única coisa que tinha, além dos trilhos e a plataforma, era um elevador que nos levava ao viaduto que passava por cima. Ao subir, não havia nada além do viaduto e carros passando. O negócio era seguir por 2,6km a pé até, quem sabe, ter sorte e avistar um taxi. E os 2 que passaram estavam ocupados. Não tinha solução. Tínhamos que seguir a pé, arrastando as malas, nos desviando da ciclofaixa. Parecia que estávamos pagando promessa. Só sei que no final de tudo isso perdi 2 quilos e minhas pernas não pareciam mais as minhas pernas, de tão finas que ficaram. E o pior de tudo é que eu nem lá gostei de Dresden. Cidade esquisita demais!
No fim, Berlim fechou a viagem com chave de ouro. Gostei muito da cidade e da atmosfera que tem. Até teve um cara que trabalhava em um museu que me xavecou descaradamente em português, convidando para sair à noite para uma balada. Deu até vontade, não por ele, mas no fim estava mais focada em turismo cultural do que jovial. Mas de toda forma, fiquei empolgada pelo xaveco. Que mulher não gosta de ser cortejada delicadamente por um rapaz bonito? Ah duvido!
Voltando para São Paulo, minha amiga e eu já tínhamos combinado de viajarmos juntas até 2020. Mas a vida acaba fazendo com que você mude um poucos os planos. Não só por conta de mudanças profissionais, mas também rolou mudanças de prioridades que nos fez realizarmos viagens "solos" e com os respectivos namoridos. Naquele contexto de 2012 e 2013 estávamos na mesma sintonia, no mesmo ritmo de vida e que simplesmente achamos que sempre seria daquele jeito. Mas como é maravilhoso viver, tudo muda. Mas ainda continuamos com uma vontade extrema de viajarmos novamente juntas. Pelo menos é o que sinto!